Uma palavra sobre educação: Festa no Céu
Maria da Penha Brandim de Lima
A fábula todo mundo conhece. Houve uma festa no céu e todos os animais foram convidados, com exceção do sapo, que, tendo sido informado da causa de sua exclusão, ardilosamente a estendeu para o jacaré. O motivo era bem simples: bicho de boca grande não entra no céu. Quando criança, eu ria das vozes diferentes que meu pai fazia ao me contar essa história e refletia sobre ela, concluindo que bicho de boca grande não entrava na festa porque o céu é um lugar de paz e lá, as festas são comemorações elegantes, nas quais ninguém mastiga de boca aberta, não fala quando está comendo, não ameaça o próximo, não dá escândalos e sabe-se a hora de falar e a hora de calar. Sabe-se, inclusive, a hora de se retirar. Bicho de boca grande, falador e respondão, que não sabe se comportar, não tem lugar em espaços nos quais a ética é a Mestra de Cerimônias.
E por falar em gente elegante e deselegante e em céu, aproveito o efeito sonoro da palavra para contribuir com algumas reflexões. Em período eleitoral, o trampolim da Educação tende a ser bem freqüentado e dele, surgem idéias de mega construções coloridas que apareçam bastante e que supostamente resolverão os problemas do ensino. Vou entrar no mérito da questão.
Marta Suplicy (PT), em sua gestão como prefeita, criou os CEUs (Centros Educacionais Unificados), um projeto político pedagógico concretizado a partir de um plano de governo e que contava com a atuação de profissionais especializados nas diversas áreas, tendo em vista a integração da comunidade em espaços culturais e educativos a fim de minimizar as desigualdades sociais de acesso à cultura. Estamos falando da cidade de São Paulo, metrópole que é, com suas peculiaridades e problemas sempre maiores e mais urgentes, com grande demanda por ensino, cultura, esporte, lazer e possuidora de uma Rede Municipal de Ensino própria, que atende do Ensino Infantil à Educação Básica. O projeto, que não foi poupado de críticas, com a saída da ex-prefeita anda bem mirrado, segundo relatos de alguns educadores; surpreendentemente, a construção de Centros Educacionais surge agora com toda força, como Super Star das eleições, aclamada até pelos partidos que antes o rechaçaram.
Pra começar é preciso entender que as cidades são diferentes, suas necessidades também e, por isso, o poder público deve saber quais são as reais demandas de suas comunidades para não correr o risco de fazer como os maus estudantes que só sabem copiar: “colam” o que outros idealizaram para situações específicas de suas comunidades. Sugiro que proponhamos uma questão simples ao candidato que aparecer em nossa porta: qual é o plano de governo específico para nossa comunidade, visando ao bem estar e ao desenvolvimento integral dos jovens? É bom lembrar que plano não é intenção. Planos têm, entre outros aspectos, cronogramas, prazos, orçamentos e levantamento de recursos necessários.
Os educadores já têm visto de tudo: redução e aumento de carga horária, do calendário escolar, da matriz curricular, mudanças nas nomenclaturas, diferentes propostas curriculares etc, enquanto as avaliações institucionais nacionais e internacionais continuam confirmando a continuidade dos baixos resultados de aprendizagem em nosso país. Por outro lado, estudos recentes demonstram que escolas menores, com redução do número de alunos e com uma equipe profissional bem preparada apresentam melhores resultados de aprendizagem, ou seja, escolas bem planejadas, com crianças estudando perto de suas casas, sem o desgaste do deslocamento, tendem a contribuir para a construção da identidade do aluno, proporcionam maior atenção das equipes pedagógicas e obtém melhores resultados escolares.
O mundo do trabalho do novo milênio requer uma formação abrangente e de qualidade, com formação continuada, atualização permanente, pessoas dinâmicas e bem qualificadas, o que implica muito mais que carga horária extensa, num currículo bonitinho.
Para isso, urge que os administradores públicos invistam na implantação de Escolas Técnicas, Faculdades, Bibliotecas, Centros de Língua e de Informática, evitando a exclusão social. Hoje, muitos daqueles que querem continuar os estudos têm que se deslocar para outras cidades, arriscando-se no trânsito caótico das rodovias. O que falar então, dos portadores de necessidades especiais?
A falta de perspectivas para adolescentes e jovens, a ausência de sonhos, de objetivos, constituem um duplo problema porque têm levado muitos meninos e meninas às drogas, à prostituição e à marginalidade e porque o despreparo acadêmico e profissional lhes produzirá um futuro, no mínimo, opaco.
É bom lembrar que o gestor público é um dos responsáveis pelo preparo para o futuro da sociedade. Educação não é brincadeira e eleição não é festa, se fosse, gente bem conhecida seria logo barrada porque não tem postura adequada e não percebe os reflexos de suas atitudes para o amanhã.
Não sei muitas coisas, mas imagino que, além do tamanho da boca, com um peso desses nas costas, pouca gente entraria no céu.
Maria da Penha Brandim de Lima é Doutoranda e Mestra em Língua Portuguesa pela PUC/SP, Professora do Ensino Superior nos Cursos de Letras e Pedagogia e Diretora de Escola da Rede Pública Estadual de Ensino.
Maria da Penha Brandim de Lima
A fábula todo mundo conhece. Houve uma festa no céu e todos os animais foram convidados, com exceção do sapo, que, tendo sido informado da causa de sua exclusão, ardilosamente a estendeu para o jacaré. O motivo era bem simples: bicho de boca grande não entra no céu. Quando criança, eu ria das vozes diferentes que meu pai fazia ao me contar essa história e refletia sobre ela, concluindo que bicho de boca grande não entrava na festa porque o céu é um lugar de paz e lá, as festas são comemorações elegantes, nas quais ninguém mastiga de boca aberta, não fala quando está comendo, não ameaça o próximo, não dá escândalos e sabe-se a hora de falar e a hora de calar. Sabe-se, inclusive, a hora de se retirar. Bicho de boca grande, falador e respondão, que não sabe se comportar, não tem lugar em espaços nos quais a ética é a Mestra de Cerimônias.
E por falar em gente elegante e deselegante e em céu, aproveito o efeito sonoro da palavra para contribuir com algumas reflexões. Em período eleitoral, o trampolim da Educação tende a ser bem freqüentado e dele, surgem idéias de mega construções coloridas que apareçam bastante e que supostamente resolverão os problemas do ensino. Vou entrar no mérito da questão.
Marta Suplicy (PT), em sua gestão como prefeita, criou os CEUs (Centros Educacionais Unificados), um projeto político pedagógico concretizado a partir de um plano de governo e que contava com a atuação de profissionais especializados nas diversas áreas, tendo em vista a integração da comunidade em espaços culturais e educativos a fim de minimizar as desigualdades sociais de acesso à cultura. Estamos falando da cidade de São Paulo, metrópole que é, com suas peculiaridades e problemas sempre maiores e mais urgentes, com grande demanda por ensino, cultura, esporte, lazer e possuidora de uma Rede Municipal de Ensino própria, que atende do Ensino Infantil à Educação Básica. O projeto, que não foi poupado de críticas, com a saída da ex-prefeita anda bem mirrado, segundo relatos de alguns educadores; surpreendentemente, a construção de Centros Educacionais surge agora com toda força, como Super Star das eleições, aclamada até pelos partidos que antes o rechaçaram.
Pra começar é preciso entender que as cidades são diferentes, suas necessidades também e, por isso, o poder público deve saber quais são as reais demandas de suas comunidades para não correr o risco de fazer como os maus estudantes que só sabem copiar: “colam” o que outros idealizaram para situações específicas de suas comunidades. Sugiro que proponhamos uma questão simples ao candidato que aparecer em nossa porta: qual é o plano de governo específico para nossa comunidade, visando ao bem estar e ao desenvolvimento integral dos jovens? É bom lembrar que plano não é intenção. Planos têm, entre outros aspectos, cronogramas, prazos, orçamentos e levantamento de recursos necessários.
Os educadores já têm visto de tudo: redução e aumento de carga horária, do calendário escolar, da matriz curricular, mudanças nas nomenclaturas, diferentes propostas curriculares etc, enquanto as avaliações institucionais nacionais e internacionais continuam confirmando a continuidade dos baixos resultados de aprendizagem em nosso país. Por outro lado, estudos recentes demonstram que escolas menores, com redução do número de alunos e com uma equipe profissional bem preparada apresentam melhores resultados de aprendizagem, ou seja, escolas bem planejadas, com crianças estudando perto de suas casas, sem o desgaste do deslocamento, tendem a contribuir para a construção da identidade do aluno, proporcionam maior atenção das equipes pedagógicas e obtém melhores resultados escolares.
O mundo do trabalho do novo milênio requer uma formação abrangente e de qualidade, com formação continuada, atualização permanente, pessoas dinâmicas e bem qualificadas, o que implica muito mais que carga horária extensa, num currículo bonitinho.
Para isso, urge que os administradores públicos invistam na implantação de Escolas Técnicas, Faculdades, Bibliotecas, Centros de Língua e de Informática, evitando a exclusão social. Hoje, muitos daqueles que querem continuar os estudos têm que se deslocar para outras cidades, arriscando-se no trânsito caótico das rodovias. O que falar então, dos portadores de necessidades especiais?
A falta de perspectivas para adolescentes e jovens, a ausência de sonhos, de objetivos, constituem um duplo problema porque têm levado muitos meninos e meninas às drogas, à prostituição e à marginalidade e porque o despreparo acadêmico e profissional lhes produzirá um futuro, no mínimo, opaco.
É bom lembrar que o gestor público é um dos responsáveis pelo preparo para o futuro da sociedade. Educação não é brincadeira e eleição não é festa, se fosse, gente bem conhecida seria logo barrada porque não tem postura adequada e não percebe os reflexos de suas atitudes para o amanhã.
Não sei muitas coisas, mas imagino que, além do tamanho da boca, com um peso desses nas costas, pouca gente entraria no céu.
Maria da Penha Brandim de Lima é Doutoranda e Mestra em Língua Portuguesa pela PUC/SP, Professora do Ensino Superior nos Cursos de Letras e Pedagogia e Diretora de Escola da Rede Pública Estadual de Ensino.