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sábado, 16 de agosto de 2008

Uma palavra sobre educação

Lucidez em tempos de eleições
Maria da Penha Brandim de Lima
Outro dia ouvi uma conversa daquelas impossíveis de se deixar de escutar quando se está numa fila (não me recordo em qual delas) do supermercado, do banco, da farmácia... Enfim, era uma conversa corriqueira, mas que representa um sentimento geral e persistente. Em determinado momento alguém sentenciou: “Viu como agora tudo está acontecendo na cidade? Obras para todo lado, recapeamento das ruas, limpeza das vias e espaços públicos...tudo o que não foi feito em quatro anos, agora está sendo feito rapidinho. Na minha opinião, deveríamos ter eleições semestrais, assim, sempre veríamos o uso dos impostos, das taxas, do dinheiro público sendo utilizado”.

O comentário provocou risos e acenos afirmativos de cabeças. Ao ouvi-lo, confesso que me entristeci porque esse tipo de comentário reflete um sério problema da nossa sociedade. Ele demonstra uma cultura eleitoreira a qual estamos acostumados e que permitimos que tenha continuidade indefinidamente. Isso acontece, em parte, porque muitos de nós votamos em pessoas desqualificadas, sem ética e, principalmente, sem plano de governo. Pessoas que tendem a prender-se em jogos de empurra, o jogo do a-culpa-foi-do-outro, ou no jogo do faz-de-conta, faz-de-conta que cumpri minhas promessas, faz-de-conta que me importo com a população.

Por isso é preciso refletir. Quantos de nós pesquisamos, analisamos e questionamos as propostas de nossos candidatos? Quantos de nós analisamos sua postura, sua linguagem e suas atitudes mais simples como, por exemplo, a forma como se dirigem às pessoas, o nível de atenção que lhes dá, não apenas em tempos de campanha, mas durante sua vida junto à comunidade ou junto àqueles com quem trabalha?

Atuando na Educação Pública há mais de vinte anos, tenho percebido que o caráter de uma pessoa está refletido na maneira como trata seus semelhantes e que isso implica atitudes, ações e realizações em todas as suas atividades. Nós, cidadãos, esperamos que na vida pública, nossos administradores sejam íntegros, éticos, respeitosos; é isso que proporciona ações públicas realmente eficientes.

Nesses anos, também aprendi que a alma de um povo é sua cultura, são seus valores e suas crenças. Em Educação, os principais personagens não são os prédios, embora sejam importantes; não são os livros e apostilas, embora façam parte do processo; não são os equipamentos, embora contribuam com trabalho do ensino.

Em Educação, os principais personagens são as pessoas envolvidas: pais, alunos, professores, funcionários e equipe gestora: meio e fim de um projeto educacional.

Acreditamos, portanto, que, sem a adequada valorização desses personagens e a retomada do respeito aos seus direitos e suas necessidades, refletidos num projeto de governo amplo, a ser executado durante toda a gestão, discutido com representantes dos diversos segmentos envolvidos, teremos apenas mais um período eleitoreiro, uma farsa em que uns dizem que farão mundos e fundos e alguns fingem que acreditam ou procuram levar alguma vantagem enquanto podem, num jogo de faz-de-conta intolerável que resulta na perda dos valores, da fé e da credibilidade do povo.

Está na hora de exigirmos mais do que a simples maquiagem pública de nossos problemas. Em tempos de eleição, ao povo cabe a necessária lucidez na hora do voto, pesando muito bem o que foi demonstrado pelos candidatos no decorrer de sua vida pública: da postura à linguagem, das promessas às ações; aos candidatos, cabe a necessária lucidez no momento da disputa, demonstrando ética e respeito entre si e para com a população, bem o respeitando à nossa inteligência, pois o jogo de faz-de- conta, ou o jogo do a-culpa-foi-do-outro, não convence mais ninguém, só serve para deseducar, para dar maus exemplos e para frustrar a comunidade.
Maria da Penha Brandim de Lima é Doutoranda e Mestra em Língua Portuguesa pela PUC/SP, Professora do Ensino Superior nos Cursos de Letras e Pedagogia e Diretora de Escola da Rede Pública Estadual de Ensino.

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