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sábado, 16 de agosto de 2008

UMA PALAVRA SOBRE EDUCAÇÃO

Lembranças e perspectivas na Era do Descartável
Maria da Penha Brandim

O segundo semestre se inicia e como em todo recomeço, todos nós pensamos em fazer algo diferente. Empolgados, aproveitamos o momento do reencontro com os colegas para vislumbrar novas perspectivas. Professores traçam planos, pensam em mudanças de estratégias ou na aplicação de uma teoria estudada num curso de férias, estão motivados pelo descanso desses últimos dias e pela sensação de recomeço, afinal, abrir a porta da sala de aula no primeiro dia letivo é sempre uma esperança nova. Para alguns estudantes, a página em branco do caderno novo pode significar a promessa de mantê-lo sempre limpo, escrever com letra caprichada, realizar todas as atividades da maneira mais correta possível... Fazer tudo “direitinho”!
As lembranças que todos nós temos dos tempos de escola podem variar, mas pertencem ao mesmo tema, a fase entre a infância descomprometida e a vida adulta, cheia de compromissos, exatamente esse ponto: o momento em que nos capacitamos a ser responsáveis, a assumir conseqüências e aprender a fazer escolhas. Muitos de nós somos de um tempo em que a escola era muito mais valorizada, estudar era coisa muito séria e, mais sérias ainda, as cobranças que nos eram realizadas: abaixar a nota, nem pensar; levar bilhete para casa, muito menos; faltar às aulas, de jeito nenhum!
Tratava-se de um tempo em que aprender era muito importante porque o conhecimento era valorizado não somente como um investimento econômico em que é preciso estabelecer limites entre o que foi aplicado e os lucros obtidos, alcançar metas de produção e satisfazer o cliente. O Conhecimento era entendido como alimento para a alma, algo que nos permitiria fazer crescer a alma e tornar a vida um bem durável, algo com o que nos comprometíamos verdadeiramente.
Novos tempos, novas opções, novas perspectivas. Nessa época em que tudo se tornou descartável, artigos duráveis como a valorização ao conhecimento e o desenvolvimento da responsabilidade perderam o valor.
A atual preocupação dos educadores fundamenta-se justamente por isso. Nesses novos tempos não temos encontrado meios para convencer os estudantes da importância do Conhecimento exatamente como ele é: o alimento que faz a alma crescer e ficar mais forte, capacitando-a para assumir a vida, ou seja, um bem durável, que ninguém rouba e que não se acaba. Ao contrário, esse bem se renova e tem inúmeras utilidades. Serve, por exemplo, para ajudar a resolver problemas e não apenas “dar jeitinhos”, serve para nos apresentar ao mundo como alguém que é uma pessoa de valores, e não alguém “que possui isso ou aquilo”, serve para lembrar a humanidade de tudo o que ela já fez, como, por exemplo, dos erros do passado que não devem se repetir agora e dos avanços que demos, graças aos esforços de muitos homens e mulheres de coragem e dedicação.
O conhecimento adquirido na família, nas atividades sociais e na escola precisa ser transferido para a vida, mas, só consegue fazer isso, quem realmente aprende. Quem passa pela escola carregando os dias letivos como um fardo, corre o risco de passar pela vida do mesmo jeito. Infelizmente, existem muitos casos assim. Temos assistido a um desfile de seres humanos que apenas “passam”: estudantes que apenas passam de ano, profissionais que vão passando pelas escolas, empregados que vão passando por vários empregos, pessoas que vão passando por cargos... Às vezes são como gafanhotos: chegam, devoram tudo o que podem, reclamam de tudo e vão embora, procurar outro lugar para repetir a mesma ação.
Podemos ficar procurando culpados e elencando razões para esse tipo de procedimento, mas, a verdade é que estamos permitindo tudo isso e nos tornando distantes de um ideal de formação integral do ser humano, resultado da falta de políticas públicas voltadas para o investimento nas pessoas, lucro que seria certo, garantido e permanente para a conquista de um futuro melhor.
Obras vultosas são bonitas, mas deterioram-se ou podem ser destruídas por vândalos, esses seres irresponsáveis, criados pela falta de investimento social. Gente bem cuidada, política social consistente e preocupação com a qualidade de vida de hoje e de amanhã são bens duráveis que constroem sonhos e consolidam lares sólidos, que formarão indivíduos de melhor caráter.
Nesse início de segundo semestre nossas perspectivas estão aguçadas, estamos motivados pela esperança da renovação. É preciso fazer desse sentimento um novo plano de sociedade e redirecionar nossas ações para essa transformação.
Um bom começo é fazer escolhas que demonstrem nossos anseios por uma melhor qualidade de vida, apostando nas ações sociais, preservando o meio ambiente e, principalmente, dizendo não aos maus hábitos e maus exemplos daqueles que pretendem nos usar como objetos descartáveis para levar vantagens pessoais e depois, jogar fora os nossos sonhos.

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